terça-feira, abril 18, 2017

Mais um dia em Varanasi

Era o nosso último dia turistando pela Índia. 

Antes do alvorecer, já estávamos em ação, a caminho do Ganges, o rio sagrado, para o tradicional passeio de barco por suas águas, onde os hindus praticam seus rituais sagrados.

Apesar do horário precoce, as ruas já estavam movimentadas e o Dasashwamedh Ghat era um burburinho só. Barcos e mais barcos saindo com os visitantes prontos para experiências raras.


Pedimos a Sunita - nossa guia - que nos ajudasse a comprar os kits de oferendas que vimos nas mãos dos vendedores por ali e nos postamos no barco que ela já tinha reservado para nós.

Nossas oferendas: flores e velas
Foto: Ana Oliveira

Embarcadas, iniciamos a navegação.

Nosso barqueiro, calado, remava deixando pra trás o Dasashwamedh Ghat e nos levando a novos horizontes.

Iniciando a navegação. No canto inferior direito, nosso barqueiro.
Foto: Rose Barros

Quando nos afastamos um pouco da margem, acendemos nossas velas e lançamos nossas oferendas às águas do Ganges.


Navegando, víamos outros ghats e hindus em seus rituais místicos: abluções, lavagem de roupas, orações, cânticos. 

Cada um vivendo a fé à sua maneira
Fotos: Ana Oliveira e Rose Barros

Purificar a alma e o corpo no Ganges é um dos mandamentos que os hindus procuram cumprir, visitando Varanasi pelo menos uma vez na vida e fazendo seus rituais nas águas do rio, daí o impressionante movimento que se testemunha na cidade e no rio. Ali, a fé mobiliza tudo, de uma forma bastante perturbadora para nós, que não temos esses costumes.

Impactadas com tudo o que víamos, nem nos demos conta de que o dia seguia seu curso e, de repente, fomos surpreendidas pela alvorada: na outra margem do Ganges, o sol roubava a cena!

Fotos: Ana Oliveira

Vilma foi quem viu o espetáculo primeiro. Maravilhada, ela chamou a nossa atenção para o cenário. Um deslumbre que arrebatou nossos olhos – e os de todos os outros turistas – por algum tempo. Convenhamos, ver o nascer do sol no Ganges não é fato corriqueiro, né gente?

Fotos: Rose Barros



Com o sol já a certa altura, seguimos a navegação rumo ao Manikarnika Ghat, onde funciona o crematório. Mais um panorama ímpar para aquela manhã.


Fotos: Rose Barros




Um dos cânones que regem os fiéis hindus é o da reencarnação. Para eles, terminar seus dias na cidade sagrada e cremar o corpo dos mortos atirando as cinzas nas águas do Ganges é o caminho que leva a essa meta. Assim, há toda uma instalação em torno disso: casas para doentes que esperam a morte, comércio de madeira, sândalo e incenso para a cerimônia e pessoas que movem essa engrenagem para que tudo caminhe como recomenda a crença dos devotos.

Fotos: Ana Oliveira

Segundo as informações que ouvimos, cadáveres de mulheres grávidas, crianças e sacerdotes não são submetidos à cremação. Seus corpos são atirados diretamente ao rio. 

Tudo isso leva a crer que as águas do Ganges são imundas e malcheirosas, mas não é verdade. Por algum motivo inexplicável, não há cheiro ruim e as águas não parecem mais sujas que as das nossas praias urbanas. Tanto que nem tivemos receio de molhar nossas mãos nas águas sagradas. 

Olhaí, Ana comprovando o que eu disse acima!

Nosso passeio sobre as águas demorou pouco menos de uma hora. Antes de desembarcar, posamos para uma selfie e saímos para terra firme, lideradas por Sunita.

No barco

Seguimos então para um passeio pelas estreitas e labirínticas ruas da antiga Varanasi. 

Por trás do crematório, topamos com as pilhas de madeira usadas nas cerimônias. Trabalhadores se dedicavam a separar e pesar esse material. Sunita nos informou que uma cremação demanda aproximadamente 300 kg de madeira. 

Pesando madeira
Foto: Ana Oliveira

Avistamos as torres do Templo de Kashi Vishwanath, também conhecido como Templo Dourado, dedicado a Shiva. 

Nos aproximamos da mesquita Gyanavapi  ao lado do templo dourado, onde não são permitidas visitas de turistas. Inclusive todos os que circulam pelas proximidades não podem portar câmeras nem mochilas. Nós mesmas tivemos que deixar todos os nossos pertences sob a guarda de um lojista, a pedido de Sunita.

Visitamos uma loja onde se vendiam óleos terapêuticos.

Vimos os templos domésticos, as crianças vestidas para ir à escola, Enfim, a vida da cidade.


De passagem por um ponto onde se servia chai masala, Ana arriscou-se a experimentar uma taça da bebida, no que foi admirada (e repreendida) por todas nós. Eita coragem!


Com essas e mais aquelas, já passava das 9 horas e lá estávamos nós flanando pelas ruas de Varanasi, sem sequer ter tomado o café da manhã... Hora de regressar para o hotel.

No caminho de volta, ainda passamos rapidamente pela frente da Universidade Banaras Hindu, tradicional pelo ensino do sânscrito.

Fotos: Ana Oliveira

Café da manhã tomado. Malas guardadas na recepção. Saímos novamente com Sunita rumo a Sarnath, localidade a 13 km de Varanasi, onde se acredita que Sidarta Gautama, o fundador do budismo, teria feito seu primeiro sermão.

Trata-se de um lugar sagrado para os budistas, onde monastérios e estupas construídos no passado foram destruídos pelos muçulmanos. Parte dessas construções foram redescobertas em escavações  e hoje há ali um museu com coleções de arte budista encontradas durante os trabalhos e um jardim com as ruínas remanescentes.

Ruínas de Sarnath
Foto: Rose Barros

O ponto alto do complexo é a Estupa Dhamekh, que marca o ponto exato do primeiro sermão de Buda.

Estupa Dhamekh, com  43 m de altura e 28 m de diâmetro

Foi a primeira vez que ouvi a palavra estupa e, lógico, a primeira vez que vi uma. Trata-se de um monumento budista de formato circular, ao redor do qual os fiéis fazem suas orações. Não é possível entrar numa estupa, elas são maciças. 

Fiéis fazendo suas preces em torno da Estupa Dhamekh

Rodas de oração, bandeirinhas coloridas com orações impressas, velas... tudo isso faz parte da variedade de acessórios que se encontram nos arredores das estupas.

Turistas posando para selfie próximo à Estupa Dhamekh

Voltando de Sarnath, houve a tradicional parada numa cooperativa de tecelões de seda e seguimos para o almoço no Royal Family Restaurant.

Mais uma vez de volta ao hotel, agora sem nossos aposentos, aproveitamos o wi fi pra colocar nossas vidas internáuticas em dia, enquanto esperávamos a hora de partir para o aeroporto.

Como eu disse no post anterior, seria pecado dos mais graves deixar de ir a Varanasi. Não caiam nessa, por favor!

O voo Varanasi/Délhi  foi rápido e tranquilo. Em menos de duas horas pousamos no aeroporto Indira Gandhi, onde nos esperava o próprio Anil, representante da Indovision com quem tratamos toda a viagem. Gostamos dessa deferência!

Nosso dia terminou no confortável e elegante Novotel New Delhi Aerocity, ideal para o merecido descanso das guerreiras.

Encerramos assim nossas andanças pela Índia. No dia seguinte, partiríamos para Khatmandu, no Nepal.

Prontas para o Nepal


2 comentários:

  1. O passeio de barco pelo Rio Ganges rendeu muita narrativa ilustrada. Notável, a movimentação dos turistas com oferendas para serem lançadas no leito do misterioso Rio, práticas que levavam à purificação do corpo e da alma. Interessante também, a cremação dos corpos dos fiéis cujas cinzas seriam lançadas no Ganga. digno de nota também , o local aonde ocorreu o primeiro sermão de Buda. Valeu!

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    1. É como eu disse, mesmo: Varanasi é imperdível!
      Obrigada por ter acompanhado a narrativa do périplo pela Índia.
      A seguir teremos Nepal. Aguarde!

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