sábado, julho 23, 2011

A Budapeste do Chico

Francisco Guedes é um apaixonado pela Hungria. 
Nós nos conhecemos apenas pelo twitter e pelo facebook, mas parece que somos velhos amigos.
Quando ele soube que iríamos a Budapeste, foi logo mandando um montão de dicas preciosíssimas.
Com autorização do Chico, transcrevo tudo aqui e convido os leitores a darem uma olhadinha no blog dele, o HungriaMania.

Aí vão as informações do nosso amigo:
Querida Ana, 
Tou aqui administrando a inveja ótima de vocês que daqui a uma semana estarão apreciando a beleza que os homens criaram na mais suave e linda curva do Duna (Danúbio, em magiar).

Como eu já disse, ficando na Erzsébet tér /érjêêbét têêr/ (com erre meio de caipira, rolado) vocês estarão num lugar privilegiadíssimo para explorarem a cidade e, se gostam de caminhar como eu, fazerem a maioria das coisas a pé.

Tenho uma história muito especial com essa praça, porque foi aí que botei os pés em Peste pela primeira vez, que em julho de 98 aí ficava a estação de ônibus internacionais (eu vim de Londres de bus, loucura que só se faz uma vez). Hoje ela está reformadíssima, linda, com espelho d'água e tudo, e aí mesmo, na praça tem um bar-café super famoso, grandes "degraus" praça abaixo, que bombava no verão de 2008, última vez que estive aí, com música ao vivo, teatro e galeria lá em baixo.

1. Buda Hill, Castle, Matthias Church, Fishermen's Bastion: assim que chegarem e pegarem um mapa (se já não têm um) vão ver que estão a só 3 ou 4 quadras do Danúbio: e nessa direção podem fazer logo o passeio que é o must básico: atravessar a Ponte das Correntes (Lánchíd /láánts hííd/) e subir o Monte do Castelo, em Buda, passeando do próprio castelo até a Igreja Matias e o Belvedere dos Pescadores, adjacente. Vai estar lotado de turistas, mas é lindo mesmo e, aproveitando pra ir cedo da manhã talvez vocês evitem o rush mais intenso. Há um elevador logo do outro lado da ponte, que leva ao Castelo, mas eu sempre preferi tomar a estrada de paralelepípedo à esquerda, que vai subindo agradavelmente em zig-zag e não custa nada nem tem fila. Se forem cedo e as filas não estiverem muito grandes, vale a pena pagar para entrar na Mátyás Templom e ver os afrescos estilo secessão, o art nouveau centroeuropeu, resultado de uma restauração no final do século XIX.

2. Passeio ao cair da noite: há um passeio bem gostoso de fazer ao longo do rio do lado de cá (Peste, onde fica o hotel) no cair da noite, quando as luzes do Castelo e da Lánchíd (ponte) se acendem do outro lado. Mas eu evitaria os restaurantes que ficam nessa área, parte dos hotéis internacionais beira-rio, porque são tourist traps com preços inflacionadíssimos. Esse passeio é povoado aqui e alí, como não podia deixar de ser, por hookers de ambos os sexos procurando descolar uns euros. Faz parte da cena.

3. Confeitaria Gerbaud: pertíssimo do hotel também, ainda na direção do Duna (podem até passar aí já na ida para o Castelo, para fazer um reconhecimento) fica a Praça Vörösmarty /Vöröshmórti/, nome do grande poeta e dramaturgo do séc XIX cuja estátua está no meio da praça. Aí está a famosa Confeitaria Gerbaud, que vale a pena conferir, visitar por dentro, descer aos banheiros, e até comer uma sobremesa a bit overpriced, for the fun of it.

3. Mercado Central: partindo da mesma praça há uma rua de pedestres, a Váci utca /Váátsi utssa/ (utca é rua), que é outro proverbial tourist trap, mas que descida até o final (não é longa), atravessando uma praça e a aveninda, há um lugar imperdível, o belo e grande Central Market Hall,o melhor lugar pra conhecer tudo que a Hungria produz de bom em comidas e bebidas. Vale uma boa hora batendo perna e perguntando sobre os goodies. No andar de cima tem também artesanato e uma área onde se pode almoçar comidas, sopas e outros quitutes em locais informais e de preços legais. E bom ir pela manhã até hora de almoço, que ele costuma fechar de tarde cedo.

4. Andrássy út / avenue /ondrááshi/, Operaház, Eklektika, Bookshops, Mensa Restaurant, etc. Saindo da praça do hotel na direção oposta, procurem no mapa a Andrassy Út, a grande aveninda que os húngaros abriram para celebrar os mil anos da chegada deles à bacia carpática, que eles comemoraram no final do séc XIX. Andando uns 300m, do lado esquerdo, vão dar na Budapest Operaház, um dos prédios mais importantes da história da arquitetura húngara, que vale a pena conhecer, se tiverem tempo. Há tours guiados. Morro de amores porque acho que vi aí mais óperas aí em um ano do que em qualquer outra época igual da minha vida. Do fim dos anos 90 para cá os preços subiram muito, helás.

5. Eklektika: uma quadra depois da ópera, ainda à esquerda, vocês dão numa rua que começa larga, chamada Nagymező /nódjmézöö/ (significa Campo Grande), onde ficam 3 ou 4 teatros de operetta e alguns cafés e restaurantes. Entrando à esquerda, passando por esses teatros, quando a rua já vai estreitar, vocês vão dar no Eklektika, sobre o qual já te falei no twitter. Enjoy it!

6. Bookshops: Voltando à Andrássy, numa esquina em diagonal tem uma filial da Alexandra Bookshop que tem um café simpático dentro. Mas seguindo adiante, agora, no lado direito da avenida, portanto, vocês vão dar, na esquina seguinte, na Könyvesbolt, a Loja do livreiro, a livraria mais cult da cidade, apesar de pequena, onde rolam encontros, palestras de autores e leituras de poesia durante todo o ano. Eles têm também uma ótima seleção de literatura húngara em outras línguas, além de cds e dvds legais. Vale a pena uma entrada nem que seja só pra sentir o clima. Nesse lugar funcionou nos tempos áureos, até a virada dos séculos XIX e XX o famoso Japán Kavéház, um dos mais famosos dos 700 !!  cafés que Budapeste tinha em 1900, ponto de encontro de escritores, poetas e boêmios famosos.

7. Menza Restaurant: a porta de saída da livraria acima dá na praça Lizst Ferenc, uma praça comprida que é qualhada de cafés e restaurantes bacanas mas um pouco "fashionable" demais, surgidos nos últimos 10 anos, e que atendem turistas e gente local endinheirada who want to see and to be seen, basicamente. MASSS, há aí mesmo, no final da  mesma quadra da livraria, há o MENZA, que tem uma decoração retrô original que é um charme, e o cardápio variável sempre tem umas leves /lévésh/ (sopas) ótimas. Agora, sendo verão, e muito provavelmente quente pacas, se for de dia, vale a pena, quem sabe, provar uma gyümölcsleves, uma sopa fria de frutas com yogurte, que é uma experiência gastronômica bem específica da Hungria.  

Seguem mais dicas em breve.
beijos
Chico

Ana, 
Tinha feito essas anotações no word dias atrás e acabei não te mandando.
Mas agora li teu lindo post sobre o diário da sua avó, e vendo ela falar de quitutes, bolinhos etc., me lembrei de te mandar.

As 3 coisas que eu mais adoro na cozinha húngara são, strudel de cereja azeda (meggyes rétes), sopa de cogumelos (gombaleves), e....thchan tchan tchan... POGACSA, e é dela que o texto trata: (no final tem umas obs sobre pronúncia, só pra se alguma de vcs tiverem curiosidade).

Pogacsa /pôgótcho/ espécie de bolinho salgado de massa semi-folhada que é uma maldição de bom (quando bem feito). A fonte mais garantida são as fornerias ‘Princess’, que existem na entrada de várias estações de metrô. 

Na Hungria eles medem peso de comida em ‘deka’, 10 gramas, assim 20 deka = a 200 gramas. Sugiro que, pra provar, vocês peçam:
10 ou 20 deka da sajtos (de queijo, as básicas) e outro tanto de spénotos(recheadas com creme de espinafre, de morrer!). Talvez seja melhor levar por escrito, há enorme possibilidade das vendedoras não entenderem inglês. Mas se quiserem arriscar pedir, a pronúncia é:
20 deka sajtos /húúss dékó shóitosh/ e /húúss dékó shpêênotosh/. Se for 10 é tíz /tííz/.

Antes de pedir qualquer coisa, a fórmula polida, que abre todas as portas é:
Kérek szépen /kêêrék sêêpen/ se vc estiver sozinha, e kérünk szépen/kêêrünk sêêpen/ se estiver com mais alguém, e significa basicamente: peço/pedimos gentilmente, que é a única forma de please que eles têm.

Pra agradecer, mesma coisa, depende de se quem agradece está só ou acompanhado:
Sozinha/o: Köszönöm szépen /kössönöm sêêpen/; acompanhada/o:Köszönjük /kössöniük/ (o ‘szépen’ aumenta o grau da gentileza, quer dizer literalmente “belamente/bonitamente”).

OBS sobre pronúncia: 
Quando eu coloco duas vogais juntas na transcrição, é que se trata de uma vogal mais longa, e isso muitas vezes é fundamental para compreensão deles.

Importante: TODAS as palavras em húngaro são acentuadas na primeira sílaba. É uma espécie de francês às avessas, rsrs. Sílaba longa não significa, portanto, sílaba acentuada, a não ser que esteja no início da palavra, como é o caso em “kérek szépen”.

Pra descomplicar a leitura de qualquer coisa é bom saber também que:
SZ é uma letra só, com som de nosso S de sabão, sempre.
S lá tem som de ch em chave, ou o x em xadrez. Daí sajtos ficar /shóitosh/.
ZS é também uma letra só, mas com som de J de juízo, ou G de gente, sempre (por isso seu hotel é na praça /érjêêbet/ Erzsébet tér.
E = ao nosso É, curto, enquanto É = ÊÊ, fechado mas longo.
A = um a bem fechado e curto, quase nosso Ó, enquanto Á = a um ÁÁ, longo e bem aberto.
Os Üs e Ös são pronunciados como o U francês, e o EU francês de ‘feu’, com “biquinho”, e têm também suas equivalentes longas Ő e Ű, com ”aspinhas” em cima.

beijos
Chico 

3 comentários:

  1. Carmen, querida, fiquei até encabulado, você postou tudo!! risos.
    De qualquer maneira, muito obrigado pela deferência e o destaque.
    Fiz uma confusão com o nome real da könyvesbolt (livraria)na esquina da Andrássy com a praça Lizst Ferenc, na verdade ela é conhecida como Írók Boltja, ou seja, Loja dos Escritores, como se lê na fachada que fica virada para a praça.

    detalhe besta: vi que no meu texto sobraram dois "aí" repetidos no mesmo período.

    Eu também sinto como se fôssemos velhos amigos! E que agora partilhamos segredos sobre uma cidade que pra mim é "pra voltar" sempre.
    puszik /pussik/ (beijos)

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  2. eita, mas que bacana!!! tô pedindo licença e já enviando o link pro meu irmão que daqui uns dias estará por lá ;-)

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  3. Fique à vontade, Mari.
    As informações do Chico foram preciosas e certamente influiram na nossa visão sobre a cidade.
    Tomara que aconteça o mesmo com seu irmão.

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